sábado, 13 de novembro de 2010

Ilusões,Pretensões e Desilusões






Ilusões, pretensões, desilusões


Ainda nos bancos das Universidades, alunos manifestam já nos primeiros anos da vida acadêmica os mais diversos planos para o desafio da vida profissional. A grande maioria externa o desejo de ingressar nos quadros da Magistratura, Ministério Público e Procuradorias, são poucos os que manifestam interesse em exercer a carreira de Delegado de Polícia, mas qual seria a razão dessa falta de interesse?
 Após cinco anos de estudo acadêmico/jurídico o discente cumpre a primeira etapa estabelecida para todos que desejam prestar um concurso que exija nível superior em Direito, seja para a magistratura, ministério público ou delegado de polícia, não há qualquer diferença, todos são Bacharéis em Direito.
Aqueles poucos alunos que se aventuram no mundo policial, iniciam a carreira cheios de planos, perspectivas e aspirações, afinal se tornaram por força de muito estudo e dedicação Autoridades Policiais! Por ato governamental, os novos delegados são deslocados para os mais longínquos rincões do Estado, onde passam a exercer seu mister sem qualquer ajuda de custo para deslocamento ou estada, percebem logo de início que terão pouco ou quase nenhum apoio para desempenharem suas funções.
Nesse momento, ainda impregnados de promessas e sonhos, tais como melhoria salarial e estrutural, independência administrativa e orçamentária, conquista de prerrogativas etc. o delegado de Polícia, guerreiro sobrevivente que é, com muito custo apresenta-se à sua nova Cidade e assume seu precioso papel de defensor da Lei, da ordem e da Justiça. A batalha que se avizinha parece regozijante (sic).
 Ao adentrar seu local de labor a primeira impressão é pura decepção, ambiente insalubre, sujo, desorganizado, um quadro de abandono. Celas super lotadas, pouca ou quase nenhuma estrutura física, número reduzidíssimo de profissionais policiais e muita cobrança da sociedade, do MP, dos superiores hierárquicos e a principal: a cobrança que fazemos de nós mesmos.
Por um instante acreditam os novos delegados que poderão mudar aquele quadro caótico que encontraram e buscam, lutam de todas as formas para fazê-lo. Oficiam, solicitam, pedem, clamam, gritam, choram e nada conseguem, tem assim mais uma vez reafirmada a sensação de que estão sós, abandonados à própria sorte, é como se ouvissem: virem-se!
Mas as dificuldades fazem parte da vida de todos e o interessante e digno de elogio é saber vencê-las, assim fazem as Autoridades Policiais, com desprendimento, disposição ímpar e com a colaboração suntuosa dos demais profissionais que o acompanham (investigador e escrivão de polícia e em muitos casos servidores cedidos pelas prefeituras locais) realizam atendimentos à sociedade, diligenciam a fim de obterem indícios e provas acerca de autoria de crimes, produzem Inquéritos policiais, os quais servem como base para mais de 90% das denúncias oferecidas pelo Ministério Público, colocam em prática, enfim, o ideal de pacificação social.
Como disse certa feita um Delegado de Polícia, a Autoridade policial é antes de qualquer coisa um socorrista social e as delegacias verdadeiros prontos socorros sociais, afinal, para onde correm os vitimados e necessitados da segurança estatal senão para as delegacias?
Não obstante a fragosidade do cotidiano, os novos delegados continuam sua peregrinação acreditando que tudo que lhes foi apresentado até aquele instante é “exceção”, que muito em breve seus locais de trabalho passarão por reformas “já autorizadas” pelo poder estatal e que poderão, enfim, trabalhar em um ambiente digno e limpo.
No entanto, tudo leva a crer que se trata de um quadro irreversível, ao que parece nada mudará, posto que não há interesse em se criar uma polícia forte, bem aparelhada, bem remunerada e motivada, é preciso que seja subserviente e para tanto é imprescindível que não possa caminhar com suas próprias “pernas” é necessário que esteja sempre com o “pires” na mão.
Neste ínterim, os novos delegados já tépidos, perceberão que pouco ou quase nada podem fazer para mudar o quadro que encontraram lá no princípio.
Percebem que não haverá independência administrativa e financeira posto que seja preciso manter a “ascensão” política sobre as autoridades policiais; Que não haverá melhoria salarial vez que é preciso manter os bons profissionais cada vez mais afastados dos quadros da polícia, deixe que estes ingressem na magistratura e Ministério Público; Que não haverá a concessão de qualquer prerrogativa funcional tendo em vista que a independência do Delegado não é conveniente a ninguém e a nenhum interesse escuso.
Assim, nasce o pior dos sentimentos em um profissional: a desilusão. Já não há esperança, já não há a quem recorrer; Muitos daqueles que se encontram sentados em seus frágeis tronos de areia não estão dispostos a lutar pela instituição POLÌCIA CIVIL, almejam singelamente a manutenção do status quo, sem perceberem que destroçam a todos, que nos levam à beira do abismo a cada ausência de apoio; quando nos desvalorizam enquanto profissionais com cobranças e exigências esdrúxulas.
Percebam que a maior desvalorização da carreira Delegado de Polícia nasce dentro da própria instituição, quando deveria ser esta a maior INCENTIVADORA de seus membros.
Assim, desiludidos, a grande maioria dos Delegados de Polícia, passa a acreditar que a única maneira de superar suas angústias é ingressando nos quadros da magistratura e ou Ministérios Público, onde terão o reconhecimento ao trabalho e esforço realizado, deixando a Polícia Civil cada vez mais carente de profissionais de alto garbo.
Malgrado os infortúnios, é imperativo que aqueles que amam a carreira permaneçam com a chama da altivez acesa e que lutem pelas mudanças que acreditam necessárias. É preciso agir com profissionalismo, cobrar resultados de nós mesmos e apresentá-los à sociedade, antes de exigirmos, devemos dar o exemplo, unir todos na busca do mesmo ideal que é a criação de uma polícia forte, independente e republicana, fortalecendo não cargos e ou carreiras, mas a INSTITUIÇÂO POLICIAL.

por: Márcio Dominici (Delegado de Polícia Civil, Especialista em Ciências Criminais, Vice Presidente paraRegião Sul - Adepol.)

2 comentários:

  1. Muito oportuna essa criação do Blog com atualizações e manifestações diversas acerca de nossa atividade enquanto Delegados de Polícia Civil do Maranhão.E até mesmo nesse imenso planeta de diversidades que é o nosso amado Brasil.
    Registro ao colega que concordo em gênero, grau e número cada período descrito na manifestação, e salvo engano, o tal "Delegado" que disse: "Como disse certa feita um Delegado de Polícia, a Autoridade policial é antes de qualquer coisa um socorrista social e as delegacias verdadeiros prontos socorros sociais, afinal, para onde correm os vitimados e necessitados da segurança estatal senão para as delegacias?", tivera sido a minha pessoa durante algumas aulas que a turma de DPC/2009-AISP estiveram sob minha coordenação toda a formaçao profissional.
    Não retiraria uma palavra se quer, pois me lembro ainda que, ao chegar no Maranhão fui desempenhar minhas atividades na cidade de Pastos Bons, onde, longe das estruturas atuais, o caos ali imperava, entretanto, com criatividade, amor a causa e não deixando a desilusão vir a tona, deixei a tal Delegacia Municipal bastante organizada, tanto interna como externamente, inclusive, com bons referenciais de nossa passagem reconhecido pelas autoridades municipais e pela própria população.
    Até hoje, não me deixo levar pelo caminho da desilução, pois se assim me permitisse, com certeza, já teria partido para outra carreiras jurídicas há anos.
    Sei que infelizemnte, às vezes, tanto me encontro só nessa caminhada, sobretudo pela falta de coragem de alguns colegas que,sem se posionar mesmo diante de tantos descasos que ainda imperam no dia a dia da gestao da atividade e existencia da Polícia Civil do Maranhão. E, para tanto, nada fazem ou preferem se calar.O que acho um absurdo.
    Não sabe o nobre o quanto precisei telefonar várias vezes para a nossa Entidade de Classe a fim de esta colocar uma "
    Nota de repúdio e solidariedade" ao caso do nosso colega Edmar Cavalcante que, ainda dentro da carreta sendo socorrido, de forma consciente a outra pessoa dentro da instituiçao POLÍCIA CIVIL, não comunicou e pediu todo apoio necessário, senão à minha que, imediatamente acionamos a DG, a SPCI e o próprio Secretário de Segurança Pública.
    Não foi de forma solta que o poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht bem asseverou nos idos de 1945 que " O que não sabe é um imbecil.O que sabe e cala é um CRIMINOSO". Daí prefiro determinada rebeldia sensata, a ser adjetivado com criminoso institucional na acepção da omissão denunciadao por Brecht.
    Daí, recomendo ao nobre que leia ou releia (se ja´tiver o lido) um artigo que produzir está no meu blog cujo tema é "'A sociedade dos poetas mortos' na Segurança Pública", cujo desdobramento, com certeza, o colega sentirá que ali estão delineados mesmos sentimentos espojados em seu texto.Contudo, a esperança de dias melhores, em mim, com a profundeza do meu coração, não a perderei de vista e nos esforços do meu dia a dia, continuarei fazendo minha parte, sobretudo enobrecendo a Polícia Civil, a classe dos Delegados de Policia, sem medo ou subserviência a cargos que (sei separar subordindação com subserviência), onde, sempre de forma corajosa, qdo insatisfeito com descasos demasiados, sempre tive a honradez de eticamente colocá-los a disposição para me juntar às fileiras dos idealistas, justamente para nunca deixar o sonho dos "dias melhores", morrer.Por isso, que acredito, ainda sobrevivo.
    Só precisamos multiplicar esse sentimento.E não é difícil.
    Saiba também, que temos obtido inúmeros elogios aos delegados que se formaram e estão atuando no interior do estado e que fizeram parte a turma acima citada, ou seja, têm superado os desafios e bem sabendo aproveitar o tempo para colocarem em prática as recomendaçoes de Vandré "quem sabe faz a hora não espera acontecer".
    Que Oxalá proteja a todos.
    Abraços,

    Sebastiao Uchoa

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  2. Não desanimar e acreditar sempre que tudo pode ser diferente (um dia). Rodrigo A. Domingos.

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