A idade média, na usual divisão histórico-didática, foi o período posterior a idade antiga, cujo marco inicial foi o declínio do império romano, o qual, com as invasões bárbaras, teve sua população refugiando-se em villaes, regredindo-se, nesse ponto, o esplendor das civilizações clássicas, motivo pelo qual tal interstício ficou conhecido, ainda que impropriamente, na visão de alguns historiadores, como a idade das trevas.
A história é cíclica, ao passo que, vez por outra, momentos já vividos se repetem em outro contexto. É o que acontece na Policia civil do Estado do Maranhão, que reencarna em seus dias atuais a obscuridão da era mencionada.
A nobre instituição em pauta se encontra vinculada siamesamente a uma politicalha que a impede de crescer, transformando seus membros - aqueles que se prestam a isso - em vassalos de um senhor feudal, os quais deviam obediência ao suserano e dele eram servos e se assim não o fossem perderiam sua proteção.
Os feudos sobrevivam do que produzissem, não contavam com a ajuda do rei, pois este era uma peça figurativa, que em nada podia guarnecê-los e assim são as delegacias do Maranhão que estão abandonadas pelo Estado, o qual sequer fornece o material de expediente necessário para o funcionamento das mesmas, sobrevivendo através de uma “economia de subsistência própria”, tal qual feudos.
Muitos dos policiais recentemente nomeados entraram em exercício sem possuir o devido armamento porque o Estado não o tinha para fornecer. Só faltou que lhe fossem dadas espadas.
Há ainda a situação do sistema carcerário do interior, indevidamente deixado a cargo da polícia judiciária, a qual “nobremente” faz as vezes de tampa de esgoto para dar uma solução paliativa ao problema. O que de paliativo, verdade seja dita, não tem nada, sendo a bem dizer, verdadeiro placebo, pois o que se tem são calabouços de dar inveja aos da inquisição.
As semelhanças não param por aí. São obvias e para não prolongar esta digressão destaca-se apenas mais uma, como arremate: tal qual o período medieval, há na Polícia Civil uma divisão da “igreja” em cleros, porém, desta feita, não se fazendo em um texto lúdico-comparativo de um único autor, mas em conversas de bastidores, escandidas, dos membros da instituição que se orgulham ou lamuriam e reforçam estar em um déjà vu da idade das trevas.
Por RENATO BARBOSA FERNANDES DE SOUSA – Delegado de Polícia Civil/MA
Nobre amigo e companheiro de tantas batalhas,
ResponderExcluirAntes de tudo o parabenizo pela postagem, e pela forma brilhante de utilizar um paralelismo fidedignamente traçado com base no paradigma existencial da idade medieval, em especial no período compreendido entre os séc. IV e XVI, ainda que saibamos o quanto equivocada a expressão "Idade das trevas".
Vossa Senhoria está prenhe de razão ao afirmar que `"a história é ciclica e que vez por outra momentos ja vividos se repetem em outro contexto".
Aqui valho-me do que ensinou Marx, ao também afirmar que a história está condenada a se repetir, primeiro como tragédia e depois como farsa.
A mudança desse quadro desolador deverá ter inicío a partir da tomada de consciência por parte de todos nós delegados. É simples constatar que o intresse maior não está focado na propositura de idéias que possam fortalecer a categoria, mas sim ao apego demasiado a cargos na estrutura do poder. SOMOS TODOS DELEGADOS, MAIS CEDO ou MAIS TARDE. Seria o nascedouro do período conhecido por "IDADE das LUZES"?!
Por Marcio Dominici - Delegado de Polícia
O que falta, de fato, é inteligência. E não emprego o termo em seu uso corriqueiro, quase vulgar, mas no significado original (etimológico/filosófico), ou seja, a capacidade de apreender a verdade (remeto aqui ao excelente trabalho de Olavo de Carvalho, 2004), algo que deveria ser inerente ao trabalho policial, especialmente à Polícia Judiciária.
ResponderExcluirHá muita astúcia (arte de detectar a mentira mais eficiente em cada ocasião), e pouca inteligência. Onde há inteligência (não aquela que nomeia certos setores ou órgãos), há senso de verdade, não promessas astuciosas, sejam elas relacionadas a aumentos salariais ou de efetivo, adequação estrutural ou expurgação do espírito militarizante que ainda paira em determinados ambientes.
Prezado Renato, que lucidez...desculpe-me pela ousadia em até mesmo subestimá-lo, mas diante de uma reavaliação da sensibilidade tamanha revelada por ti, reporta-me a admirá-lo pela profunda reflexão da leitura real do nosso atual contexto institucional.
ResponderExcluirAgora imagine vc ou vcs como as coisas eram há 13 anos? Para chegar a Pastos Bons precisei "cortar" (as estradas eram simplesmente péssimas) caminho numa MA que dá acesso a Orozimbo e daí, percorrer mais 20 km a fim de chegar à avenida principal da cidade que é a "Domingos Sertão", onde, de cara, vi a Delegacia que, de ruínas externas, quase coloquei combustível no meu carro e pensei retornar diretamente para minha terra natal...
Mas continuei, e investir em criatividade de forma que durante os tres meses que passamos por lá, acabamos por deixar a Delegacia Municipal organzada tanto em matéria de cartório como limpeza e pintura em geral.
Não se tinha computador ainda, daí, levei a máquina de escrever que havia recebido de presente de minha saudosa tia, tão logo me fomara nos idos de 1994.
E o primeiro flagrante sem escrivão de carreira, onde, praticamente "torrei" quase uma resma de papel, rsss
Bom, o certo que talvez naquele período, estivesse no auge do mediavelismo institucional, quiça agora exista uma contemporaneidade "melhorada"?
O certo é que, para buscarmos melhorias gerais, sem dúvida precisamos participar de qualquer forma no processo de gestão da instituição, sobretudo emitindo idéias e fortalecendo ou fazermos se fortalecerem as vozes caladas pelo tempo de inúmeros colegas que se deixaram vencer pela decepção histórica levada a cabo pelos mais diversos gestores por que passaram na esturura de gestão da Policia Civil do Maranhão.
É preciso sabe diferenciar as coisas, o que é gestão de polícia judiciária do que é efetivamente gestão da atividade meio da instituição.
Sem isso não temos como evoluir. E me dói, às vezes, as cegueiras proposionais ou por conveniências...
Penso que, diante de um resgate ou implantação de uma nova estrutura organizacional para a Policia Civil, com certeza, poderemos continuar sonhando que um dia bem breve, possamos sair em definitivo do período medieval em termos mentais e organizacionais persistente no presente, para plantarmos situaçoes concretas que poderão ser colhidas num futuro próximo para todos que farão o comando da instituição e para os futuros colegas que virão em tom de expectativa e sonhos diversos.
Eis o desafio, acredito!
Fraternos abraços e escreve SEMPRE!!!
Sebastiao Uchoa
De tais caminhos tortuosos, resta-nos a bravura dos nossos abnegados colegas que driblam as dificuldades encontradas em cada delegacia nos confins do Maranhão.
ResponderExcluirÉ entristecedor se deparar com essa situação caótica apresentada com muita sutileza pelo colega Delegado Renato.
Lembro-me que na "idade das trevas" a civilização micênica foi regredida à barbárie. A tecnologia se resumia a de subsistência, até a “arte da escrita” foi abandonada, a estrutura social era a da estagnação, quem nascia servo, morreria servo. A manipulação religiosa servia como limitador do conhecimento e a falsa pregação do temor pela fé sucumbiam à sociedade daquela época, onde todos se calavam ou eram executados em nome da fé. Fé cega por onde todos tentavam sobreviver, alguns tinha a “sorte” de se segurar em um arrimo sacerdotal.
Acontece que, hoje, a Polícia Civil do Maranhão, e por que não dizer a do Brasil, clama por chegar a um novo ciclo, um renascer de nossas instituições, mas as barreiras são muitas. Sugiro um primeiro passo: a prerrogativa da inamovibilidade, que tal? Mas fica uma pergunta: A quem interessa uma Polícia Civil forte?
Maurício Matos
Delegado de Polícia Civil do Maranhão
Cumprimento o nobre colega Renato pela lucidez com que expôs suas ideias expondo alguns do vários pontos que "atualmente" remete a nossa polícia ao "passado". Sem dúvida eloquente o paralelalismo enfocado. E como disse o texto, vários outros poderiam ser sucitados. Como Delegado entusiasta de uma polícia melhor, vejo que este blog tem sido uma 'porta aberta' para dar os nossos recados, dizer o que pensamos e a ajudar a contruir um instituição melhor. Abraços Fraternos,
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