quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Polícia Civil do MA: Déjà vu da Idade das Trevas



A idade média, na usual divisão histórico-didática, foi o período posterior a idade antiga, cujo marco inicial foi o declínio do império romano, o qual, com as invasões bárbaras, teve sua população refugiando-se em villaes, regredindo-se, nesse ponto, o esplendor das civilizações clássicas, motivo pelo qual tal interstício ficou conhecido, ainda que impropriamente, na visão de alguns historiadores, como a idade das trevas.
A história é cíclica, ao passo que, vez por outra, momentos já vividos se repetem em outro contexto. É  o que  acontece na Policia civil do Estado do Maranhão, que reencarna  em seus dias atuais a obscuridão da era  mencionada.
A nobre instituição em pauta se encontra vinculada siamesamente a uma politicalha que a impede de crescer, transformando seus membros - aqueles que se prestam a isso - em vassalos de um senhor feudal, os quais  deviam obediência ao suserano  e dele eram servos e se assim não o fossem perderiam sua proteção.
Os feudos sobrevivam do que produzissem, não contavam com a ajuda do rei, pois este era uma peça figurativa, que em nada podia guarnecê-los e assim são as delegacias do Maranhão que  estão abandonadas  pelo Estado, o qual sequer fornece o material de expediente necessário para o funcionamento das mesmas, sobrevivendo através de uma “economia de subsistência própria”, tal qual feudos.
Muitos dos policiais recentemente nomeados  entraram em exercício sem possuir o devido armamento  porque o Estado não o  tinha para fornecer. Só faltou que lhe fossem dadas espadas.
Há ainda a situação do sistema carcerário do interior, indevidamente deixado a cargo da polícia judiciária, a qual “nobremente” faz as vezes de tampa de esgoto para dar uma solução paliativa ao problema. O que de paliativo, verdade seja dita, não tem nada, sendo a bem dizer, verdadeiro placebo, pois o que se tem são calabouços de dar inveja aos da inquisição.
As semelhanças não param por aí. São obvias e para não prolongar esta digressão destaca-se apenas mais uma, como arremate: tal qual o período medieval, há na Polícia Civil uma  divisão da “igreja” em cleros,  porém, desta feita, não se fazendo em um texto lúdico-comparativo de um único autor, mas em conversas de bastidores, escandidas, dos  membros da instituição que se orgulham ou lamuriam e reforçam estar em um déjà vu da idade das trevas.

Por RENATO BARBOSA FERNANDES DE SOUSA – Delegado de Polícia Civil/MA


5 comentários:

  1. Nobre amigo e companheiro de tantas batalhas,
    Antes de tudo o parabenizo pela postagem, e pela forma brilhante de utilizar um paralelismo fidedignamente traçado com base no paradigma existencial da idade medieval, em especial no período compreendido entre os séc. IV e XVI, ainda que saibamos o quanto equivocada a expressão "Idade das trevas".
    Vossa Senhoria está prenhe de razão ao afirmar que `"a história é ciclica e que vez por outra momentos ja vividos se repetem em outro contexto".
    Aqui valho-me do que ensinou Marx, ao também afirmar que a história está condenada a se repetir, primeiro como tragédia e depois como farsa.
    A mudança desse quadro desolador deverá ter inicío a partir da tomada de consciência por parte de todos nós delegados. É simples constatar que o intresse maior não está focado na propositura de idéias que possam fortalecer a categoria, mas sim ao apego demasiado a cargos na estrutura do poder. SOMOS TODOS DELEGADOS, MAIS CEDO ou MAIS TARDE. Seria o nascedouro do período conhecido por "IDADE das LUZES"?!

    Por Marcio Dominici - Delegado de Polícia

    ResponderExcluir
  2. O que falta, de fato, é inteligência. E não emprego o termo em seu uso corriqueiro, quase vulgar, mas no significado original (etimológico/filosófico), ou seja, a capacidade de apreender a verdade (remeto aqui ao excelente trabalho de Olavo de Carvalho, 2004), algo que deveria ser inerente ao trabalho policial, especialmente à Polícia Judiciária.
    Há muita astúcia (arte de detectar a mentira mais eficiente em cada ocasião), e pouca inteligência. Onde há inteligência (não aquela que nomeia certos setores ou órgãos), há senso de verdade, não promessas astuciosas, sejam elas relacionadas a aumentos salariais ou de efetivo, adequação estrutural ou expurgação do espírito militarizante que ainda paira em determinados ambientes.

    ResponderExcluir
  3. Prezado Renato, que lucidez...desculpe-me pela ousadia em até mesmo subestimá-lo, mas diante de uma reavaliação da sensibilidade tamanha revelada por ti, reporta-me a admirá-lo pela profunda reflexão da leitura real do nosso atual contexto institucional.
    Agora imagine vc ou vcs como as coisas eram há 13 anos? Para chegar a Pastos Bons precisei "cortar" (as estradas eram simplesmente péssimas) caminho numa MA que dá acesso a Orozimbo e daí, percorrer mais 20 km a fim de chegar à avenida principal da cidade que é a "Domingos Sertão", onde, de cara, vi a Delegacia que, de ruínas externas, quase coloquei combustível no meu carro e pensei retornar diretamente para minha terra natal...
    Mas continuei, e investir em criatividade de forma que durante os tres meses que passamos por lá, acabamos por deixar a Delegacia Municipal organzada tanto em matéria de cartório como limpeza e pintura em geral.
    Não se tinha computador ainda, daí, levei a máquina de escrever que havia recebido de presente de minha saudosa tia, tão logo me fomara nos idos de 1994.
    E o primeiro flagrante sem escrivão de carreira, onde, praticamente "torrei" quase uma resma de papel, rsss
    Bom, o certo que talvez naquele período, estivesse no auge do mediavelismo institucional, quiça agora exista uma contemporaneidade "melhorada"?
    O certo é que, para buscarmos melhorias gerais, sem dúvida precisamos participar de qualquer forma no processo de gestão da instituição, sobretudo emitindo idéias e fortalecendo ou fazermos se fortalecerem as vozes caladas pelo tempo de inúmeros colegas que se deixaram vencer pela decepção histórica levada a cabo pelos mais diversos gestores por que passaram na esturura de gestão da Policia Civil do Maranhão.
    É preciso sabe diferenciar as coisas, o que é gestão de polícia judiciária do que é efetivamente gestão da atividade meio da instituição.
    Sem isso não temos como evoluir. E me dói, às vezes, as cegueiras proposionais ou por conveniências...
    Penso que, diante de um resgate ou implantação de uma nova estrutura organizacional para a Policia Civil, com certeza, poderemos continuar sonhando que um dia bem breve, possamos sair em definitivo do período medieval em termos mentais e organizacionais persistente no presente, para plantarmos situaçoes concretas que poderão ser colhidas num futuro próximo para todos que farão o comando da instituição e para os futuros colegas que virão em tom de expectativa e sonhos diversos.
    Eis o desafio, acredito!
    Fraternos abraços e escreve SEMPRE!!!

    Sebastiao Uchoa

    ResponderExcluir
  4. De tais caminhos tortuosos, resta-nos a bravura dos nossos abnegados colegas que driblam as dificuldades encontradas em cada delegacia nos confins do Maranhão.
    É entristecedor se deparar com essa situação caótica apresentada com muita sutileza pelo colega Delegado Renato.
    Lembro-me que na "idade das trevas" a civilização micênica foi regredida à barbárie. A tecnologia se resumia a de subsistência, até a “arte da escrita” foi abandonada, a estrutura social era a da estagnação, quem nascia servo, morreria servo. A manipulação religiosa servia como limitador do conhecimento e a falsa pregação do temor pela fé sucumbiam à sociedade daquela época, onde todos se calavam ou eram executados em nome da fé. Fé cega por onde todos tentavam sobreviver, alguns tinha a “sorte” de se segurar em um arrimo sacerdotal.
    Acontece que, hoje, a Polícia Civil do Maranhão, e por que não dizer a do Brasil, clama por chegar a um novo ciclo, um renascer de nossas instituições, mas as barreiras são muitas. Sugiro um primeiro passo: a prerrogativa da inamovibilidade, que tal? Mas fica uma pergunta: A quem interessa uma Polícia Civil forte?
    Maurício Matos
    Delegado de Polícia Civil do Maranhão

    ResponderExcluir
  5. Raimundo Batalha - Delegado de Polícia Civilsábado, novembro 20, 2010

    Cumprimento o nobre colega Renato pela lucidez com que expôs suas ideias expondo alguns do vários pontos que "atualmente" remete a nossa polícia ao "passado". Sem dúvida eloquente o paralelalismo enfocado. E como disse o texto, vários outros poderiam ser sucitados. Como Delegado entusiasta de uma polícia melhor, vejo que este blog tem sido uma 'porta aberta' para dar os nossos recados, dizer o que pensamos e a ajudar a contruir um instituição melhor. Abraços Fraternos,

    ResponderExcluir