Qualquer semelhança com a realidade das polícias civis NÃO é mera coincidência.
ADPF cobra providências
Por falta de pessoal, em algumas unidades agentes estão sendo nomeados chefes de delegacias no lugar de delegados federais
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) cobrou, ontem, providências ao Ministério da Justiça (MJ) e à Direção-Geral da Polícia Federal (DPF) para que o concurso para delegado seja, enfim, liberado. O certame foi suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em julho, após a Procuradoria-Geral da República exigir reserva de vagas para portadores de necessidades especiais.
O assunto aguarda o julgamento do mérito pelo colegiado do STF. O
concurso, organizado pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da
Universidade de Brasília (Cespe/UnB), já havia sido divulgado, com
salário mensal de R$ 13.368,68 e jornada de trabalho de 40 horas
semanais.
O presidente da ADPF, Marcos Leôncio Sousa Ribeiro, assinalou que a
tentativa de fazer o STF mudar de opinião “é uma batalha perdida”. A
saída viável, segundo ele, é alterar o edital, incluindo a cota para
esse público específico. “Não adianta insistir na tese da plena
capacidade física. Basta fazer uma retificação e definir as condições
para os exames médico e físico, por exemplo”, disse.
Em ofício enviado ao MJ e à direção da Polícia, a ADPF declarou ser
“absolutamente inviável” aguardar o julgamento do mérito pelo STF – sem
data prevista. Desde 2004, não é feito concurso para a categoria e o
temor é de que os delegados percam também esse em andamento.
Sendo assim, a Associação solicitou ao MJ e à Direção-Geral da PF
que seja feito um estudo, em conjunto com a Advocacia-Geral da União,
“de possíveis soluções para modular os efeitos da decisão do STF”, com o
objetivo de se manter o calendário e a programação dos concursos
públicos.
Até o momento, no entanto, a direção da PF não abre mão do seu
argumento. Segundo nota da ADPF, “a Coordenação de Recrutamento e
Seleção da PF entende que o ingresso de portadores de necessidades
especiais em cargos policiais é incompatível com as atribuições”.
A expectativa da Polícia Federal é que, no caso de o STF confirmar a
obrigatoriedade de reserva de vagas, se estipule as condições que
possibilitam ou não o ingresso de portadores de necessidades especiais,
os tipos de deficiências que serão aceitos e os requisitos a serem
observados, como por exemplo, necessidade de aprovação nas provas
físicas ou não.
“Essa discussão jurídica está causando angústia nos delegados. O
assunto pode ser resolvido. Em 13 estados do país, a Polícia Civil, que
tem funcionamento parecido com o nosso, fez adaptações no edital. Além
disso, o Cespe tem experiência em previsão de vagas para portadores de
necessidades especiais”, contou.
Reflexos negativos
A defasagem de pessoal, segundo Leôncio, prejudica o funcionamento
de vários setores da Polícia Federal. A ADPF iniciou um levantamento e
constatou que em algumas delegacias agentes estão sendo nomeados, em vez
de delegados, para chefiar a unidade.
“Pelo menos em uma superintendência do Rio Grande do Sul isso
acontece pela absoluta carência de servidor”, disse Leôncio. Atualmente,
em média, 25 delegados deixam a Polícia Federal por ano, devido a
aposentadoria ou ingresso em outro concurso. As 1.200 do atual concurso,
nos cálculos da ADPF, representam menos da metade do que é necessário.
Leôncio assinala que a suspensão do concurso é especialmente
preocupante nas unidades de fronteiras e naquelas de difícil lotação. Em
agosto, durante o primeiro encontro dos Delegados Federais da Região
Norte, em Manaus, esse foi um dos principais temas.
À época, em ofício encaminhado à Direção-Geral da PF, a categoria
argumentou que “o fato de permitir a inscrição de pessoas portadoras de
necessidade especiais no concurso não significa que elas,
necessariamente, ingressarão nos quadros da instituição, porque caberá à
Administração, mediante critérios objetivos, definir se a deficiência
apresentada é compatível, ou não, com o exercício do cargo”.
Leia mais:
FOLHA DIRIGIDA: Associação de delegados da PF admite cota para deficientes para liberação do concurso
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