O grupo supostamente comandado
por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, contava com um forte
esquema de organização e tinha uma ampla lista de policiais militares,
civis e até federais na folha de pagamento. É o que mostra o relatório
do Ministério Público Federal (MPF), feito com base em investigações da Polícia Federal (PF), ao qual o G1 teve acesso.
Em 856 páginas, o documento detalha como funcionava o
esquema denominado máfia dos caça-níqueis, desmantelado pela Operação
Monte Carlo, nesta semana. Entre os dados da investigação estão escutas
telefônicas e extratos bancários que detalham o envolvimento de
agentes de segurança com o grupo de contraventores em Goiás e no Distrito Federal.
Ao expedir 82 mandados judiciais (37 mandados de
busca e apreensão, 35 de prisão e dez ordens de condução coercitiva em
cinco estados), o juiz substituto da 11ª Vara Federal, Paulo Augusto
Moreira Lima, argumentou haver "indícios suficientes de autoria e
provas da existência de crimes de lavagem de dinheiro, contrabando,
corrupção ativa e passiva, peculato, prevaricação, quadrilha e violação
de sigilo". Entre os presos estão Carlinhos Cachoeira, o ex-vereador
Wladimir Garcez. Quatro delegados de cidades do Entorno do Distrito
Federal citados no inquérito também foram detidos, mas acabaram
liberados na tarde de quinta-feira (1º), após prestar depoimento na
Superintendência da PF em Brasília.
Escutas
Transcrições de conversas gravadas com autorização da
Justiça impressionam. Nas escutas, a polícia flagrou operadores do
esquema discutindo a contabilidade de lucros e propinas. A movimentação
financeira do dinheiro ilícito ocorria por meio de empresas em nome de
“laranjas”. A participação de delegados da Polícia Civil e Federal é
um dos pontos fortes do documento.
Em uma gravação feita em junho de 2011, um delegado da Polícia Federal demonstra intimidade com Carlinhos Cachoeira. Sempre o chama pelo apelido de "Guerreiro" e pede dinheiro para comprar um imóvel. "Fui lá na casa da mulher que tá vendendo a casa. Aí, ficou acertado com 50 mesmo. Se der para você fazer isso por mim, guerreiro velho", diz o policial.
O delegado, segundo o inquérito, trabalhava para
derrubar investigações federais contra o grupo e promover operações
contra concorrentes de Cachoeira. Ele também buscava obter e repassar
informações sigilosas.
Mesada
Um policial rodoviário federal chegava a receber R$ 9
mil mensais, de acordo com os próprios contraventores. Em troca, ele
avisava o grupo sobre as operações policiais no Entorno do DF. Um major
da PM era responsável por alertar as ações da Força Nacional de
Segurança.
Em outro diálogo transcrito no inquérito, o suspeito
de comandar a quadrilha liga para o ex-vereador Wladimir Garcez,
apontado como um dos principais operadores do esquema, e pede que ele
ligue para um membro da cúpula da Polícia Civil em Goiânia. A ordem é interromper uma operação em andamento na cidade, na qual máquinas caça-níqueis estavam sendo apreendidas.
Proximidade
Na última quarta-feira (29), o comandante do
policiamento da capital, coronel da PM Sérgio Katayama, colocou o cargo
à disposição após ser informado que estava entre os investigados.
Katayama falou ao G1 e negou ter relações comerciais,
de amizade ou de favorecimento com o empresário. No entanto, o
inquérito aponta relação entre eles.
"Durante interceptação telefônica, foi possível
identificar uma relação muito próxima entre Katayama e Carlinhos
Cachoeira, comprovada pela grande quantidade de ligações em que ambos
fazem referência um ao outro ou mesmo conversam entre si", diz o
documento. A intimidade na forma de tratamento entre os dois também
chamou a atenção da PF. De acordo com as escutas, o militar chega a se
referir ao empresário como "chefe" e recebe dele o apelido de
"Japonês".
Além do pagamento em dinheiro, realizado geralmente no dia 10 de cada mês, a quadrilha dava aos policiais participantes do esquema presentes. Eles recebiam brindes como bebidas caras, passagens aéreas internacionais e até motocicletas.
Fonte: G1Inquérito revela
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