domingo, 4 de março de 2012

Inquérito revela como policiais civis, federais, militares e rodoviários participavam na máfia dos caça-níqueis


O grupo supostamente comandado por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, contava com um forte esquema de organização e tinha uma ampla lista de policiais militares, civis e até federais na folha de pagamento. É o que mostra o relatório do Ministério Público Federal (MPF), feito com base em investigações da Polícia Federal (PF), ao qual o G1 teve acesso.

 
Em 856 páginas, o documento detalha como funcionava o esquema denominado máfia dos caça-níqueis, desmantelado pela Operação Monte Carlo, nesta semana. Entre os dados da investigação estão escutas telefônicas e extratos bancários que detalham o envolvimento de agentes de segurança com o grupo de contraventores em Goiás e no Distrito Federal.

Ao expedir 82 mandados judiciais (37 mandados de busca e apreensão, 35 de prisão e dez ordens de condução coercitiva em cinco estados), o juiz substituto da 11ª Vara Federal, Paulo Augusto Moreira Lima, argumentou haver "indícios suficientes de autoria e provas da existência de crimes de lavagem de dinheiro, contrabando, corrupção ativa e passiva, peculato, prevaricação, quadrilha e violação de sigilo". Entre os presos estão Carlinhos Cachoeira, o ex-vereador Wladimir Garcez. Quatro delegados de cidades do Entorno do Distrito Federal citados no inquérito também foram detidos, mas acabaram liberados na tarde de quinta-feira (1º), após prestar depoimento na Superintendência da PF em Brasília.

Escutas

Transcrições de conversas gravadas com autorização da Justiça impressionam. Nas escutas, a polícia flagrou operadores do esquema discutindo a contabilidade de lucros e propinas. A movimentação financeira do dinheiro ilícito ocorria por meio de empresas em nome de “laranjas”. A participação de delegados da Polícia Civil e Federal é um dos pontos fortes do documento.


Em uma gravação feita em junho de 2011, um delegado da Polícia Federal demonstra intimidade com Carlinhos Cachoeira. Sempre o chama pelo apelido de "Guerreiro" e pede dinheiro para comprar um imóvel. "Fui lá na casa da mulher que tá vendendo a casa. Aí, ficou acertado com 50 mesmo. Se der para você fazer isso por mim, guerreiro velho", diz o policial.


O delegado, segundo o inquérito, trabalhava para derrubar investigações federais contra o grupo e promover operações contra concorrentes de Cachoeira. Ele também buscava obter e repassar informações sigilosas.

Mesada

Um policial rodoviário federal chegava a receber R$ 9 mil mensais, de acordo com os próprios contraventores. Em troca, ele avisava o grupo sobre as operações policiais no Entorno do DF. Um major da PM era responsável por alertar as ações da Força Nacional de Segurança.
 


Em outro diálogo transcrito no inquérito, o suspeito de comandar a quadrilha liga para o ex-vereador Wladimir Garcez, apontado como um dos principais operadores do esquema, e pede que ele ligue para um membro da cúpula da Polícia Civil em Goiânia. A ordem é interromper uma operação em andamento na cidade, na qual máquinas caça-níqueis estavam sendo apreendidas.
 


Proximidade

Na última quarta-feira (29), o comandante do policiamento da capital, coronel da PM Sérgio Katayama, colocou o cargo à disposição após ser informado que estava entre os investigados. Katayama falou ao G1 e negou ter relações comerciais, de amizade ou de favorecimento com o empresário. No entanto, o inquérito aponta relação entre eles.
 


"Durante interceptação telefônica, foi possível identificar uma relação muito próxima entre Katayama e Carlinhos Cachoeira, comprovada pela grande quantidade de ligações em que ambos fazem referência um ao outro ou mesmo conversam entre si", diz o documento. A intimidade na forma de tratamento entre os dois também chamou a atenção da PF. De acordo com as escutas, o militar chega a se referir ao empresário como "chefe" e recebe dele o apelido de "Japonês".


Além do pagamento em dinheiro, realizado geralmente no dia 10 de cada mês, a quadrilha dava aos policiais participantes do esquema presentes. Eles recebiam brindes como bebidas caras, passagens aéreas internacionais e até motocicletas.
Fonte: G1Inquérito revela

Nenhum comentário:

Postar um comentário