Formalismo exagerado, ou de como acabar com uma investigação
Todo bom advogado sabe que, se insistir um pouco, talvez consiga anular uma investigação inteira num detalhe formal.
Isso sempre me intrigou. Tudo provado, o réu foi pego numa escuta
telefônica, os comprovantes do crime foram todos apreendidos, inclusive o
dinheiro estava na conta do réu. E aí vem alguém sempre alegar que
faltou uma portaria, o nome do procedimento investigatório era
"representação", mas deveria ser "inquérito policial", a investigação
foi feita pelo Ministério Público, quando deveria ter sido assinada por
um delegado.
Isso até é de se esperar. Quem não tem razão apela, tenta desviar o
foco. Nem menciona se o réu é inocente ou culpado. Culpado, na verdade, é
o promotor, o delegado, aqueles que colocaram um "pai de família" na
cadeia.
O problema é que isso vem se espalhando. Como promotores e juízes têm
pouco tempo para escrever livros com mais de 400 páginas (em que metade é
um malfeito "histórico" sem razão alguma para estar ali), não conseguem
publicar nas grandes editoras. Quem tem tempo - e é bem pago para
tentar transformar a jurisprudência - consegue.
Daí chegam os livros nas livrarias e nas bibliotecas, e são devorados
por promotores e juízes. Quer dizer: aquelas defesas intransigentes dos
direitos dos criminosos são devoradas por promotores e juízes.
Observa o Brasil então um fenômeno interessante: quem devia acusar agora
quer defender; quem deveria julgar agora quer defender também. E aí
temos só defesa num processo. Um promotor olha para um inquérito
policial e tenta encontrar todas as falhas formais, mesmo sem ter
dúvidas de que o indiciado é culpado. O juiz faz o mesmo. No recurso, o
procurador de justiça e assim também os desembargadores.
Lindo, não? Todo mundo falando em direitos humanos (do réu), em
"amplíssima defesa", em "sagrado contraditório". E aqueles que querem
aplicar a lei, simplesmente isso, acabam posando de extremistas,
radicais, reacionários.
Rui, meu caro Rui Barbosa, se você me ouve aí de cima, saiba que sim, já
chegou o momento: os justos e honestos já se envergonham da virtude, da
honra e da honestidade. Melhor, para estes, é calarem-se, baixando a
cabeça e se concentrando nos processos.
doministériopublico
"Como promotores e juízes têm pouco tempo para escrever livros com mais de 400 páginas (em que metade é um malfeito "histórico" sem razão alguma para estar ali), não conseguem publicar nas grandes editoras. Quem tem tempo - e é bem pago para tentar transformar a jurisprudência - consegue.
ResponderExcluirDaí chegam os livros nas livrarias e nas bibliotecas, e são devorados por promotores e juízes. Quer dizer: aquelas defesas intransigentes dos direitos dos criminosos são devoradas por promotores e juízes."
Essa é uma das maiores bobagens a ser dita por alguém da área jurídia.
Marinoni era do MPU quando escreveu seus livros de CPC. Pacelli também. Greco, Capez e Denílson Feitoza do MP. Dirley da Cunha é juiz federal e tem livros de CF e ADM. Nestor Távora era da defensoria quando escreveu seu manual do CPP. Exemplos não faltam.