sexta-feira, 15 de julho de 2011

Sem vaidade

Crise
Ferido em seus brios, delegado Avelar fica?
Exonerações de coronéis na Polícia Militar abrem nova crise no fragilizado governo de Agnelo Queiroz
Por: José Seabra *




Sandro Avelar, delegado da Polícia Federal, foi empossado na secretaria da Segurança do Distrito Federal trinta dias após ser nomeado.  Veio para ocupar a cadeira de um outro delegado, que pediu as contas ao ver que teria a função, mas não o poder. Daniel Lorenz, homem de brios, não aceitou ingerências políticas. Decidiu ir embora sem sequer dar adeus.

Avelar, diz-se, segue o mesmo rumo. A exemplo do seu antecessor, era para o novo secretário ter o comando total da pasta. Ao menos esse foi o acordo feito com o governador Agnelo Queiroz ao convidá-lo para substituir Lorenz, O Breve.

A nova crise foi deflagrada na última semana, quando 10 coronéis da Polícia Militar foram pegos de surpresa ao ler no Diário Oficial as próprias exonerações de cargos que ocupavam na Secretaria de Segurança. Ninguém sabia de nada. Nem mesmo o próprio secretário, que teve de engolir a seco essa indigesta notícia sobre a falta de moral dentro da pasta que teoricamente comanda.

A surpreendente ação publicada no D.O. foi arquitetada pelo chefe da Casa Militar, tenente-coronel Rogério da Silva Leão. Há quem sustente que Leão foi motivado por interesses próprios. É que dentro da corporação havia dez vagas disponíveis para promover tenentes-coronéis a coronéis, ato que poderia ser publicado até o dia 15 deste mês. E com a exoneração de 10, as vagas deixam de existir. Em outras palavras, os coronéis voltam a ocupar as vagas, o que compromete a promoção de tenentes-coronéis que teriam a última chance de conseguirem mudar o posto antes da aposentadoria.

Mas por que o atual chefe da Casa Militar teria interesse nisso? É simples. Por lei, Leão não poderia ser promovido nesta leva por ainda não ter o tempo mínimo exigido dentro da corporação para subir na carreira. Ao mesmo tempo, não quer ver 10 colegas de patente avançarem e terem a chance de ter mais força nos quartéis. Para isso, o chefe da Casa Militar contou com o apoio do presidente da Câmara Legislativa, o ex-cabo Patrício, que mergulhou na manobra sem medir as consequências.

E deu certo. Nem o comandante-geral soube a tempo das exonerações. Tomou conhecimento apenas na véspera da publicação, quando tentou, sem sucesso, reverter o quadro. Se o comandante e o próprio secretário de Segurança não sabiam do caso, o que dirá o governador Agnelo, que vira e mexe é atropelado pelo secretário de Governo, Paulo Tadeu? Tanto que pelo mesmo motivo, o ex-secretário de Segurança pediu para deixar a cadeira com pouco mais de três meses de trabalho.

Paulo Tadeu e Rogério Leão fazem uma dupla de ataque, promovendo, com o auxílio de Patrício, o fogo amigo dentro do próprio governo.

O novo episódio deixou Sandro Avelar na berlinda. O acordo que ele tinha com Agnelo Queiroz foi quebrado, indicando que questões políticas estão acima de qualquer decisão corporativa da Polícia Militar, cujo comandante-geral é subordinado ao secretário de Segurança Pública. Já o comandante-em-chefe, pelo andar da carruagem, é subordinado ao secretário de Governo.

No seio da tropa comenta-se que Sandro Avelar tem dois caminhos a seguir: ou cede à condição de subordinado a cabos, tenentes-coronéis e secretários de e do governo, ou pega o chapéu (posto que não usa quepe) e vai embora. Se a opção for por permanecer no cargo, estará sucumbindo à vaidade - o que não cai bem em um delegado federal - e consequentemente à humilhação de receber ordens que não aquelas do governador.

Mas há quem aposte que, como Daniel Lorenz, o delegado Sandro Avelar também é um homem de brios. E que ele mostrará isso até o dia 15, quando o ato de afastamento dos 10 coronéis será revisto. Se ele não conseguir isso, a vaga de secretário da Segurança estará aberta. De novo.

*José Seabra é jornalista, vítima da ditadura, anistiado por ato do governo Lula.

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