Há aproximadamente três meses se iniciou o movimento grevista dos
Delegados de Polícia do Maranhão, movimento este que decorreu da
impossibilidade de se manter um canal de negociação efetivo, eficaz e
principalmente que viesse a atender os anseios da categoria.
Noventa dias onde quase nada se avançou, talvez devesse mesmo dizer que
NADA se avançou, porém ao chegarmos a tal conclusão, indubitavelmente devemos
nos perguntar por que não houve uma solução para o impasse? Ouso expressar aqui
algumas das principais razões do infortúnio:
A uma porque como é sabido desde os tempos mais remotos, desde o tempo
em que greve é greve, um movimento paredista existe para incomodar e desta forma forçar
quem deveria negociar sentar à mesa e discutir os pontos, onde ambas as partes
devessem ceder a fim de se obter o consenso.
Nenhum trabalhador participa de greve por prazer ou para causar
transtornos, greve é a última medida a ser tomada justamente porque alguém
durante as tratativas que antecederam o movimento não teve habilidade
suficiente para resolver o problema no seu princípio, quase sempre os governos
preferem esperar a deflagração da greve para então negociarem (quando
negociam). Greve é ruim para todos que participam do processo.
Malgrado tenha sido declarada legal pelo Judiciário, mantivemo-nos numa
zona cinzenta, não arriscamos, não ousamos, enfim não incomodamos. Por isto,
ouvimos diariamente “vocês estão em greve?” ou “ essa greve é da
elite?” e ainda “ que greve é essa?”
Como bem disse o Milton Heinen: É preciso entender que a greve
tem uma trajetória histórica de crime, de proibição é, hoje, uma garantia
constitucional. Esse é o princípio básico. É historicamente uma ferramenta
para a conquista de direitos mínimos, de dignidade. O 1º de Maio tem exatamente
esse sentido, uma construção histórica, que custou o sangue de muita gente para
se chegar a condições mais dignas de trabalho.
A duas porque se não houve incômodo, o foi por uma razão primordial,
desde o início decidimos que o cidadão, nos atendimentos por nós
realizados quase sempre o mais necessitado e que tem na Polícia Civil, mais
especificamente na delegacia de polícia o seu pronto socorro social,
local onde ainda no calor dos fatos pede socorro ao Estado-Polícia, este
não poderia sofrer ainda mais e ser vitimizado pela segunda vez.
Desta forma os atendimentos continuaram a ser realizados numa
demonstração insofismável do comprometimento e lealdade dos Delegados de
Polícia com o público que precisa de atendimento em situações de grande
turbulência.
Nestes noventa dias de greve quantas quadrilhas foram malbaratadas?
Quantos criminosos foram presos e recolhidos ao cárcere? Quantos crimes foram
elucidados? A resposta nos é dada pelas manchetes de jornais, a Polícia Civil,
mesmo com Delegados em greve tem feito e cumprido seu papel fundamental que é o
de levar tranqüilidade à sociedade, investigar e prender criminosos, não nos
furtaremos jamais ao trabalho que abraçamos por amor e vocação, embora não se tenha
vivenciado a contrapartida necessária por parte dos diversos governos em termos de
reconhecimento ao trabalho desenvolvido por esta instituição bicentenária. Sem uma
Polícia Civil estimulada não haverá segurança pública efetiva.
Em relação às entrevistas concedidas à exaustão por alguns delegados
durante a greve, creio ser muito mais caso de vaidade que
qualquer tentativa de se mostrar contrário às reivindicações de uma categoria
da qual os próprios fazem parte e principalmente sabedores que são de que
qualquer benefício conseguido por meio de muita luta será por eles usufruído,
ainda que muitos não tenham movido uma fagulha pela vitória, sequer tenham
participado de uma assembléia da categoria. Para estes, de qualquer forma, fica
a indagação bíblica: Porventura
a vaidade não é uma beleza enganosa?
A três porque não houve restrições aos atendimentos realizados pelos
Delegados durante a greve, de briga entre vizinhos à captura de assaltantes de
bancos tudo continuou a ser resolvido. Não se concorda com a alegação esposada
pela direção da Adepol –MA (da qual faço parte, porém, nesse peculiar ouso
divergir) para não publicar a necessária instrução, instrução que não faria
sentido transcrever neste espaço.
TODO movimento grevista realizado neste país até a presente data foi
corroborado por uma instrução publicada e emitida por determinada entidade de
classe; tal instrução visa tão simploriamente orientar os delegados
acerca dos procedimentos a serem efetuados no dia a dia, de forma a se criar
uma padronização dos atendimentos durante a greve.
Ora, se todos os casos que se apresentam nas delegacias são atendidos,
se praticamente 100% dos Delegados de Polícia estão, feito cordeirinhos, em
plena atividade, inclusive revigorando-se em entrevistas concedidas às TV´s,
como esperar que o movimento surta o efeito desejado, o qual fora dito no
prólogo deste texto, que é trazer à mesa, ainda que forçosamente, os
representantes do governo para negociação? Perdoe-me, mas não tenho a resposta.
Ficaremos 3 anos em greve.
A greve não é da ADEPOL-MA, mas sim de todos os Delegados de Polícia,
não há como se cobrar do Presidente Marconi Lima aquilo que não está ao seu
alcance, cada qual é responsável por si, por suas atitudes. Este mesmo
Presidente tem-se mostrado incansável nas batalhas mais difíceis desta guerra,
batalhas estas que são travadas nos silêncio dos bastidores, onde o interesse
conflitante de várias categorias se mostra mais empedernido.
Façamos a seguinte pergunta: Quantos Delegados que você conhece estão
efetivamente engajados no movimento grevista? A grande maioria dirá
convenientemente que está trabalhando para dar cumprimento à determinação
judicial de se manter 50% dos Delegados em atividade, outros simplesmente
preferem manterem-se alheios a tudo que se passa e uma pequena parcela, quase
inexpressiva, continua a rastejar pelos estratos repugnantes da subserviência e
aproveitam a greve para “folgar do serviço diário”, já que não aparecem nas
delegacias e nem nas assembléias. Você
tem feito sua parte?
Em arremate devo dizer que a sensação (particularmente) é de que a
direção superior da Polícia Civil compreende as nossas reivindicações e tem
tentado viabilizar um canal de discussão entre a Adepol e a SSP, resta-nos
aguardar com serenidade e torcer para que vaidades individuais não se
sobreponham ao interesse de toda uma categoria de profissionais, que haja enfim
maturidade entre os envolvidos para la gran
finale.
Márcio Dominici - Delegado de Polícia, vice presidente Adepol região sul
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ResponderExcluirO que dizer sobre essa greve mediante a proposta sugerida no título do texto?
ResponderExcluirEm verdade, não temos uma greve, no máximo seria um protesto ordeiro e pacífico digno dos ensinamentos monásticos do amigo master blogger, afinal fizemos uma carreata que sequer engarrafou as facilmente engarrafáveis vias de São Luís; colocamos outdoors depois de 80 dias de greve; não fizemos instrução normativa determinando os parâmetros da greve; não cobramos os delegados que não seguiram as inexistentes instruções afinal não tem o que cobrar pois de tal maneira cada um faz a greve do jeito que vem na cabeça; não entregamos os cargos que prometemos entregar; fizemos somente duas manifestações com carro de som; trabalhamos como nunca, realizando várias operações e divulgando na mídia, ainda que o inquérito seja sigiloso, mas fizemos questão de mostrar que a pc não para, mesmo com os delegados em greve e dando a sensação a população de que nem fazemos falta; em algumas regionais criou-se um plantão para suprir o número de delegados da sede da regional, ou seja, se na grande cidade sede da regional têm 4 delegados e 2 deles não vão trabalhar, para compensar, outros 2, de Municipios pequenos irão trabalhar normalmente; para essa contagem nas regionais só vale aqueles que se declararam em greve; isso mesmo! há delegados que se declararam fura greves; realizamos vigilância ferrenha sobre os 50% que devem trabalhar, alguns delegados chefes até ameaçam colocar falta em quem se ausentar, mesmo que isso signifique o descumprimento da decisão judicial que decretou a greve legal, mas fazemos isso justamente para cumpri-la; ninguém em sã consciência entenderia isso, mas nós entendemos; nenhuma vigilância sobre os delegados que estão em greve.
Se engana quem acha que não há incômodo. Eu Mesmo estou bastante incomodado com as piadinhas, tais quais: "vocês estão em greve?ninguém sente falta", "pelegos não sabem fazer greve".
Enfim, falei o quão perigosos seriam os ensinamentos tibetanos ...
Muita conversa e pouca ações dos grevistas !
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