De abril a julho desse ano o Ministério Público do Rio de
Janeiro arquivou 6.447 (96%) inquéritos de homicídios. Só perdeu, por pouco,
para o MP de Goiás, que arquivou 97% dos inquéritos do tipo. No total, os
órgãos do país já arquivaram 11.282 casos. Tantas mortes ficarão sem
esclarecimento para que o MP possa cumprir a Meta 2, uma determinação do
Conselho Nacional do Ministério Público de que todos os inquéritos de
homicídios dolosos abertos até 2007 sejam concluídos ainda este ano. As
informações são do jornal O Globo.
Quando a Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública
estabeleceu a meta, o objetivo era exatamente o contrário: combater a
impunidade dos 140 mil inquéritos abandonados nos cartórios policiais do país.
Na prática, esse objetivo acabou sendo desviado com arquivamentos em massa ao
invés de mais investimento nas investigações.
Falta cumulativa
O exame de uma amostra dos inquéritos que tiveram o arquivamento como destino, numa das quatro varas do Tribunal do Júri da capital do RJ revela que promotores tem ignorado evidências ou arquivado investigações que nem haviam.
O exame de uma amostra dos inquéritos que tiveram o arquivamento como destino, numa das quatro varas do Tribunal do Júri da capital do RJ revela que promotores tem ignorado evidências ou arquivado investigações que nem haviam.
Em abril, quando a meta começou a ser aplicada, o MP-RJ
acumulava 47.177 inquéritos em aberto, cuja vítimas, em geral, era a maior
parte de moradores de áreas pobres e violentas, muitos com anotações criminais,
presas preferenciais de grupos de extermínio.
Alguns inquéritos nem chegaram a ser abertos antes do pedido de
arquivamento. É o caso do servente Geílson Gomes de Carvalho, que foi retirado
de casa e morto a pauladas por traficantes de vigário Geral em 1998. Convencida
por um papa-defuntos, a então companheira da vítima mentiu na delegacia ao
dizer que o motivo da morte havia sido atropelamento., para receber o seguro
DPVAT. Desmascarada a armação pelo irmão de Geílson, que descreveu o crime, ela
voltou atrás e reconheceu a mentira em novo depoimento.
Além de não apurar a fraude, a 39a Delegacia Policia não retirou
da capa do inquérito a classificação atropelamento”, e em agosto a promotora
pediu o arquivamento do caso. Motivo: prescrição por extinção de punibilidade,
por se tratar de um atropelamento cuja pena máxima seria de quatro anos. Em
entrevista ao Globo, a promotora Andréa Amin reconheceu o erro e disse que
realmente não lera as peças do inquérito, mas que mesmo se tivesse lido pediria
o arquivamento.
Titular da 29a Promotoria de Investigação Penal, ela padece com
3.300 inquéritos da Meta 2 em aberto. “Trabalho com duas delegacias que ainda
não são delegacias legais. Os policiais, envelhecidos e mal pagos, ainda
trabalham com máquinas de escrever. Se as famílias das vítimas não ajudarem,
não há como chegar aos autores.
Massificação
Alguns promotores já desenvolveram métodos para arquivamento em massa. É o caso de Janaína Marques Corrêa. Em um conjunto de pedidos negados por juízes do TJ-RJ aparecem 11 casos em que a decisão da promotora era exatamente igual, só mudando o nome da vítima. Em nota, ela alegou que os textos são iguais porque os fundamentos são os mesmos.
Alguns promotores já desenvolveram métodos para arquivamento em massa. É o caso de Janaína Marques Corrêa. Em um conjunto de pedidos negados por juízes do TJ-RJ aparecem 11 casos em que a decisão da promotora era exatamente igual, só mudando o nome da vítima. Em nota, ela alegou que os textos são iguais porque os fundamentos são os mesmos.
Em praticamente todos os casos de arquivamento analisados pelo
jornal, os inquéritos se resumem à troca carimbos entre a delegacia, que pede
mais prazo quando o atual está prestes a vencer, e os promotores, que os
concedem até que os casos atinjam a prescrição.
O promotor Sérgio Pinto, que no último m6es já pediu o arquivamento
de 292 casos defende a medida. “Estamos arquivando para que os novos inquéritos
detenham atenção especial em sua elucidação.
Em São Paulo
A prática de arquivar antecede a Meta 2. No 1 Tribunal do Júri de São Paulo, que concentra mais da metade dos casos de homicídio da cidade, só no ano passado foram arquivados 1.500 inquéritos. A grande maioria deles, cerca de 90%, é arquivada por falta de informações sobre a autoria do crime. E a maior parte desses crimes acontece em bairros pobres, em meio a famílias sem condição financeira ou social para clamar por Justiça.
A prática de arquivar antecede a Meta 2. No 1 Tribunal do Júri de São Paulo, que concentra mais da metade dos casos de homicídio da cidade, só no ano passado foram arquivados 1.500 inquéritos. A grande maioria deles, cerca de 90%, é arquivada por falta de informações sobre a autoria do crime. E a maior parte desses crimes acontece em bairros pobres, em meio a famílias sem condição financeira ou social para clamar por Justiça.
O juiz Renato Chequini conta que, quando essas mortes ocorrem,
seja por acertos de dívidas de drogas ou crimes cometidos em favelas e ruas, é
raro haver investigação criminal. O juiz também se queixa da falta de uma
política de proteção às testemunhas, o que inibe os depoimentos.
"Se a família da vítima for pobre, a chance de arquivamento
é enorme. A testemunha protegida no Brasil é um caso de ficção, assim como o
país não tem a cultura da polícia técnica. Quando um inquérito começa a ir e
voltar, com papéis de um lado e outro, é sinal de que será arquivado", diz
o juiz
Nenhum comentário:
Postar um comentário