Greve da PF expõe crise na corporação, que teve efetivo reduzido
Além de enfrentar alto índice de suicídios e disputa entre agentes e delegados, precisa se reestruturar para a Copa 2014
Se
a crise vivida pela Polícia Federal tem sua face mais visível na
paralisação das diversas categorias da corporação, a desvalorização do
trabalho da Polícia Judiciária da União pode ser medida pelo
encolhimento de efetivo, excesso de trabalho, doenças e até um número
assustador de suicídios, em média um por mês no último ano. O apogeu da
PF foi vivido no primeiro governo Lula, quando o efetivo chegou a 15 mil
agentes, de acordo com associação dos Delegados da Polícia Federal
(ADPF), e hoje conta com apenas 11 mil, uma queda de 26,6%. No
horizonte, o único aceno é a realização de um concurso para 1,2 homens
até 2013, fazendo com que a PF tenha à porta dos grandes eventos – Copa
do Mundo, em 2014, e Olimpíadas, em 2016 – pessoal aquém do ideal. São
6,9 mil agentes e 1,7 mil delegados para cuidar de todas as fronteiras e
combater crimes.
Com o cobertor curto para todos, internamente a PF vive também uma queda
de braço entre agentes e delegados. Em maior número e donos de diploma
superior, os agentes defendem o fim da carreira de delegado, categoria
que reage com absoluta rejeição à proposta. Os ataques são públicos e
ganharam espaço com os movimento grevista, e o entendimento parece
distante. Houve também perda de prestígio popular da corporação, que em
2007 tinha 70% de aprovação e hoje não passa de 60%, segundo pesquisa da
CNT/Sensus.
O presidente da Associação dos Delegados Federais, Marcos Leôncio,
admite a crise e vai mais longe. Diz que a solução só virá com a edição
da adoção da lei orgânica da PF e completa reestruturação
administrativa, que inclui criação de cargos e definição de funções.
“São essas omissões que alimentam as disputas internas. Não existe
solução a curto prazo”, defende.
FRATRICIDA Segundo
Leôncio, o projeto de criação da lei orgânica da corporação foi enviado
pelo Executivo em 2009, mas está esquecido na burocracia do Congresso.
“O governo não chamou para si a responsabilidade de promover a
reestruturação, única forma de gerar estabilidade na corporação. Fez
como Pôncio Pilatos: lavou as mãos.”
Para Leôncio, a corporação tem hoje duas estruturas: uma formal e outra
informal. “São chefias que existem de fato, mas não de direito. O
servidor responde por uma função que não existe formalmente, mas que é
necessária para o trabalho”, explica. O dirigente lembra que várias
estruturas do governo passaram por esse processo de reestruturação, como
o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e a Controladoria-Geral da
União (CGU), e estão pacificadas. É indispensável a redistribuição de
funções e cargos”, defende.
Mesmo reivindicando reajuste de 30% para delegados, a ADPF diz que o
maior problema hoje é a desvalorização do servidor da PF, que tem atuado
com desestímulo. De acordo com Leôncio, para dimensionar o tamanho do
problema, basta comparar a gratificação de chefia da Polícia Civil de
Brasília com a de um delegado federal. A gratificação da polícia
judiciária estadual é de R$ 3,1 mil para chefiar uma delegacia, sendo
que na PF o benefício para exercício da mesma função é R$ 323. Ou seja,
cerca de 90% menor.
Para demonstrar a improvisação, Marcos Leônio lembra que em 17 unidades
de fronteiras 780 policiais federais aguardam a implantação da
indenização, que será de R$ 91 por dia. “Apesar da importância, só esse
estímulo não resolve porque é necessário também o aumento do efetivo,
por exemplo, em Ponta-Porã (MS), onde é feito um flagrante a cada 24
horas. “O servidor nessa função tem o subsídio e não faz jus, por
exemplo, ao adicional noturno, sofre com sobrecarga e não tem descanso
definido”, explica.
ENCOLHE Esta
realidade, diz o presidente, fez crescer também o número de casos de
depressão, alcoolismo e desagregação familiar. “Nem os números
atualizados das doenças ocupacionais nós temos. Sabemos que a média de
suicídios é alta, em razão de levantamento do Sindicato dos Agentes
Federais. Somente na Superintendência de Brasília, neste ano, foram três
suicídios”, afirma.
Levantamento da ADPF revela ainda que, até dezembro de 2015, o efetivo
da PF deverá encolher mais, porque estão previstas cerca de 1,2 mil
aposentadorias, 238 por ano. Desse total, em média, 25 delegados vão
deixar a corporação por ano. O estudo mostra ainda que existem hoje no
país apenas 17 unidades de combate a desvio de recursos públicos e
crimes financeiros, quando o enfrentamento eficaz exige implantação de
27 unidades.
Autor: Maria Clara Prates
Fonte: Estado de Minas
Comentando a matéria: Aqui uma chefia para Delegado em Delegacias "municipais" é de 115 reais com uma pequena variação (pequena mesmo) para um ou outro município, a chefia para Delegacias especializadas e regionais está na casa dos 300 reais, pode? pode. Ouvimos muitas promessas de que tais "chefias" seriam atualizadas mas nunca, nada se concretizou. Não é crível que um Delegado tenha que chefiar uma Delegacia receba tão pouco, um investigador ou escrivão R$98, como tenho dito, tudo é feito na base do improviso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário