Professor – Bom dia, eu gostaria de saber se meu livro foi aprovado para publicação...
Editor – Bom dia, Professor Edílson, como vai?
Professor – Tudo bem. É que já faz uns meses e não saiu nada ainda...
Editor – Sabe o que é, professor, vou lhe ser sincero. O Conselho Editorial sugeriu umas alterações. Disseram que não dá pra falar hoje em direito penal sem citar uns estrangeiros, sabe como é...
Professor – Estrangeiros? Mas eu estou falando do direito brasileiro!
Editor – Pois é... pediram para ver se o senhor pode citar algum autor alemão, italiano, francês, coisa do gênero, pra tornar mais vendável o livro.
Professor – “Vendável”?
Editor – O mercado hoje é composto mais por advogados do que por qualquer outra coisa. 98,3% de nossos clientes são advogados. Então precisamos desses estrangeiros para dar uma visão mais liberal do direito penal, entende?
Professor – Mas o meu trabalho é científico. É baseado em pesquisas de campo, veja os gráficos...
Editor – Que nada, professor, gráficos e pesquisas de campo não são vendáveis no direito. O legal é criar novas teorias, garantismo, justiça restaurativa, essas coisas que facilitam pros advogados, sabe como é...
Professor – São doze anos de pesquisa... Aí tem parte da minha vida. Uma nova teoria geral do direito penal brasileiro, de acordo com a nossa realidade sociológica. E uma exposição do pensamento eurocêntrico dos ministros do STF...
Editor – Ah, por falar nisso, falar mal dos ministros do STF não pega bem, professor. A moda agora, o que mais vende, é elogiar as decisões garantistas, sabe? Criar umas palavras novas, romancear um pouco, sabe? Está vendendo um monte esses livros que comparam o direito e alguns romances, do tipo Gabriel Garcia Márquez. E se o senhor tiver um autor estrangeiro mais obscuro e puder explicar o que ele ensina, melhor ainda, fica uma beleza para vender. Também está na moda falar em uma tal cultura de paz, para justificar que não deve ter direito penal mais, sabe?
Professor – Esse garantismo não deu certo nem na Itália nem em lugar nenhum do mundo. E é importado para cá pelo STF como se fosse a solução de tudo. Meus estudos mostram justamente o contrário. E ciência não é literatura. Tem que ter dados, estudos, estatísticas, e não essa baboseira de direito fundamental ao amor...
Editor – Mas, professor, vou lhe falar o que digo para todos os autores. Pense na renda do livro. O senhor vai ganhar 10% sobre o valor de capa. Se seguir as dicas do Conselho, pode ficar rico, igual aqueles caras do Rio Grande do Sul. E tem aquele de São Paulo, conhece?
Professor – Eu não quero ficar rico! Se quisesse não seria professor. Só quero contribuir para a ciência penal brasileira!
Editor – Sinceramente, não entendo...
Professor – Eu te entendo! Passar bem!
do blog Ministério Público
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