Siderley Andrade
O que empurra um homem para uma profissão de tal risco? A opção de um emprego? A vocação? O orgulho? Talvez sim, mas o desejo maior desse homem é de servir à sociedade, de salvar vidas, de proteger o indefeso, ser herói anônimo.
Profissão de guerreiros, onde não é admitido o medo, a covardia, a omissão. Mas quem não tem medo? Afinal esse homem é de “carne e osso”, sujeito as mesmas emoções, sentimentos e medos que qualquer pessoa tem. Os medos afloram à toda situação de risco, sendo controlado , deixando esses homens sempre espertos e atentos. O convívio com situações de emergências se intensifica a cada dia, obrigando o mascaramento, pois afinal “Herói” não tem medo de nada.
Um chamado no rádio da viatura informa uma ocorrência, o deslocamento veloz na expectativa de evitar o crime. Situações muitas vezes tristes, dramáticas e mesmo traumatizante, quando nos defrontamos com o crime, a violência, o acidente, a ilegalidade a fatalidade. Estas situações e responsabilidades que são colocadas nas costas desses homens de farda.
A população reclama porque acha que é muito fácil manter a ordem pública na cidade. Mal sabe que, enquanto o jantar está sendo servido na família, na frente da televisão, no conforto do lar, do outro lado, no submundo, muito sangue está correndo, o nosso e o dos marginais. O serviço policial é o elo que separa a sociedade e o submundo do crime.
É engraçado, ninguém fala ao seu dentista sobre uma extração de um dente ou uma restauração, ou nem se arrisca a falar ao médico que ele está fazendo uma cirurgia errada, mas todos parecem que entendem sobre segurança pública. Em muitas ocorrências, o cidadão com expectativas esperando que esse homem fardado resolva todos os seus problemas, do outro lado esse homem esperando cooperação, compreensão, solidariedade... Difícil Hein! Onde resta quase sempre alguma mágoa ou decepção, misturada com uma sensação de dever cumprido.
As dificuldades da profissão, principalmente sobre as injustiças, os acertos são pouco elogiados, mas seus erros são duramente criticados pela sociedade e pela mídia. São poucos que reconhecem o árdua trabalho, pois na maioria preferem criticá-los. São profissionais que trabalham sob pressão permanente, enfrentando os mais diferentes tipos de adversidades e injustiças.
A rotina do dia-a-dia segue, mais um serviço, mais um plantão, mais uma noite, preleção, recomendações, alguns ajustando o equipamento, outros vestindo o colete a prova de balas. Últimos preparos e estão mais uma vez nas ruas . Durante a noite o rádio grita “Companheiros Baleados…, Companheiros baleados”.
As viaturas se deslocam em alta velocidade no apoio, todos com um só pensamento “companheiros estão em perigo. O silêncio do rádio aumenta a ansiedade. Precisamos chegar.!. O rádio volta a gritar ” Companheiros baleados gravemente…estão sendo socorridos. “O coração dispara, os olhos lacrimejam, quem será ?…….Novamente o silêncio do rádio é quebrado, e é informado algo ninguém quer ouvir ……..Infelizmente informamos a toda rede que nossos companheiros acabaram de falecerem no PS”. Os sentimentos se misturam, desolação…, sensação de impotência….revolta…tristeza…..choro. Em meio a tudo isso, um pensamento ecoa “Poderia ter acontecido comigo. Amanhã quem será ? Será que serei o próximo?
O perigo é nosso companheiro permanente, a morte em serviço significa o mais alto preço pago para a preservação da ordem pública e o restabelecimento da tranquilidade de cada cidadão, esses homens não são parte do problema na segurança pública, e sim parte da solução.
A índole e o desejo profissional são mais que fato, o desejo de se defrontar com o inimigo é quase uma paranóia. Esses homens de farda sonham com o dia do primeiro tiroteio. Não para que esse dia não chegue, mas para que chegue rápido. Todo cidadão sonha e reza para nunca encontrar um marginal pela frente. Esses heróis torcem para que isso aconteça o tempo todo e ” quanto mais armado e apetitoso, melhor ainda ” Heroísmo, loucura, sabe-se lá ! O fato é que algo muito forte nos empurra para o perigo, e a cada dia a missão será cumprida..! Companheiros tombaram, mas para aqueles que continuam na batalha, e que em suas veias correm a vontade de ajudar os outros, servir a sociedade, vestir a farda com orgulho do que faz , que escolheu a missão de defender o cidadão de bem, confrontar o crime e que nisto arriscar a própria vida, a guerra não acabou. ” A missão continua “.
* Siderley Andrade de Lima, consultor de segurança patrimonial, Supervisor operacional da GCM de Jandira.
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