Ministério
Público é a instituição pública menos transparente do país. A
constatação foi feita pelo presidente da ONG Transparência Brasil,
Cláudio Abramo, um especialista em transparência e informação, durante o
seminário Liberdade e Democracia, da Fundação Assis Chateaubriand, em
Brasília, na quarta-feira (27/4). O Seminário colocou em debate a nova
Lei de Acesso a informação, que regulamenta o acesso a informações
públicas consideradas sigilosas, como as relativas a atos dos governos
militares, e cria grau de sigilo para cada tipo de informação do poder
público. O encontro também discutiu a liberdade de expressão, as novas
mídias e a transparência das contas públicas.
Para
fundamentar sua constatação, Abramo citou o relatório de atividades do
Conselho Nacional do Ministério Público: "Das doze páginas do relatório,
dez são dedicadas a explicações sobre os motivos de os MPs estaduais
não terem fornecido os dados pedidos, as outras duas páginas falam da
falta de dados do MP federal. Nem o Ministério Público Federal nem os
estaduais dão qualquer informação", disse o presidente da Transparência
Brasil, que é matemático. "Eles não obedecem qualquer hierarquia e
sonegam qualquer dado sobre seu desempenho", afirmou. Para ele, cabe à
imprensa "acompanhar o que faz esse MP mal vigiado e mal controlado".
Gil
Castello Branco, da ONG Contas Abertas, afirmou que o Judiciário é a
instituição pública menos transparente quanto à divulgação de seus
gastos. Ao lado de Abramo, ele sustentou que estados e municípios terão
dificuldades para aplicar a Lei de Acesso à Informação, que deve ser
sancionada na próxima semana. Isso porque, ao contrário da União, que já
possui a Controladoria-Geral da União, alguns estados e municípios vão
demorar para implantar um órgão para gerenciar o acesso às informações
que devem passar a ser públicas.
“Promulgar
uma legislação não é suficiente para que a informação circule”,
advertiu Abramo. “A União terá um órgão para gerenciar, que é a CGU
(Controladoria-Geral da União), mas os estados e os municípios vão
demorar a dispor de mecanismos semelhantes”, explicou. “No primeiro dia
após o prazo (de aplicação da lei, que será de 180 dias), a imprensa vai
procurar as informações e muitas ainda não estarão disponíveis. Vamos
ter dificuldades”, concordou Castello Branco.
Abramo
discordou. Para ele, o setor público mais opaco e obscuro é o
Ministério Público. afirmou, acrescentando que o relatório do Conselho
Nacional do Ministério Público mostra a falta de transparência do MP.
"Das doze páginas do relatório, dez são dedicadas a explicações sobre os
motivos de os MPs estaduais não terem fornecido os dados pedidos, as
outras duas páginas falam da falta de dados do MP federal. Nem o
Ministério Público Federal nem os estaduais dão qualquer informação",
disse o matemático, concluindo que "a imprensa deveria acompanhar o que
faz esse MP mal vigiado e mal controlado".
Imprensa livre
Os especialistas que participaram do seminário também concordaram em
defender a necessidade de manter a imprensa livre de qualquer controle. O
deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) e o jornalista Márcio Chaer, da revista
eletrônica Consultor Jurídico, iniciaram os debates destacando a necessidade de manter a liberdade de expressão no Brasil.
Teixeira
afirmou que as autoridades não podem fazer censuras prévias. “Não deve
haver intimidação de autoridades conservadoras. O povo tem direito à
informação”. Já Chaer defendeu a necessidade de uma lei especial em que o
dano moral praticado pela imprensa tenha um tratamento que considere a
inexistência de dolo em caso de erro involuntário.
O diretor presidente do Correio Braziliense,
Álvaro Teixeira da Costa, afirmou que a Fundação Assis Chateaubriand dá
prosseguimento à política e à ideologia dos Diários Associados de lutar
pela liberdade de expressão ao promover eventos como o desta
quarta-feira. “O preço da liberdade é a vigilância constante”, afirmou. O
diretor presidente do Correio disse ainda que o tema do seminário tem
que ser uma constante nos debates do país. “A liberdade precisa ser
discutida com frequência.”
Regulamentação
O jornalista Gustavo Krieger e o advogado Marco Aurélio Rodrigues da
Cunha participaram do debate sobre liberdade de expressão nas novas
mídias, nas quais ainda não há regulamentação. “A internet não está na
Constituição, mas onde há sociedade, há o direito”, observou Cunha. Para
ele, um dos problemas é a falta de paralelos para os juízes decidirem
sobre o assunto. O advogado lembrou que no Congresso existem em
tramitação 173 proposições de regulamentação do setor.
Krieger
afirmou que o problema no uso das novas mídias é a informação sem
qualidade. Entretanto, que a própria população poderá fazer esse
controle. “A sociedade dará credibilidade a quem tem legitimidade”.
O
diretor de Comercialização e Marketing do Correio Braziliense, Paulo
César Marques, encerrou o seminário destacando o trabalho de Assis
Chateaubriand para o acesso à informação. “Ele trouxe a televisão para o
Brasil, promoveu grandes debates, estimulou campanhas e deixou um
legado para a sociedade brasileira”. O debate foi mediado pelo
jornalista Alon Feuerwerker, colunista do Correio.
Fonte: Consultor Jurídico (http://www.conjur.com.br/2011-abr-28/especialistas-discutem-dificuldade-aplicar-lei-acesso-informacao)
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