O poder do Ministério Público de investigar em ações criminais,
contestado em diversas ações e com diferentes entendimentos, poderá ser
cerceado com a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 37/2011) aprovada pela
CCJC da Câmara dos Deputados no último dia 13. A proposta define que a
competência para a investigação criminal será unicamente da Polícia Judiciária
(polícias Federal e civis dos estados e do Distrito Federal).
O autor da proposta, que foi encaminhada a uma comissão especial na
Câmara, deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA), defende que, pela Constituição, o
MP nunca teve a competência ou atribuição de realizar investigações, mas que o
número de investigações feitas pela instituição “vem crescendo no decorrer do
tempo e está tomando força e proporções impressionantes”.
“O MP cresceu muito e ficou muito forte e está tentando fazer
investigação concorrente com a Policia Judiciária. Eles querem chamar para si
essa atribuição”, reclama o deputado, que é também delegado da Polícia Federal.
Para Mendes, que afirma ser um grande admirador do trabalho desenvolvido pela
instituição, o MP pode acompanhar todo o processo investigatório, mas não
realizar a investigação. “Eles não fazem bem. É pra ser sigilosa, tem prazos.
Há provas que, se não forem colhidas no momento certo e da forma certa, não
serão novamente. Está invadindo competência da policia.”
Esquentar investigação
A Associação
Nacional dos Procuradores da República (ANPR) se posicionou totalmente
contrária à proposta. O presidente da associação, o procurador regional da
República Alexandre Camanho de Assis, afirma que levar toda e qualquer
investigação para a polícia só fará com que a Justiça demore mais.
“Se a prova está na fase de análise de documentos que já estão na mão do
MP, por que eu deveria ‘esquentar’ essa investigação colocando nas mãos de um
delegado que já tem uma fila de 15 mil investigações para fazer?”
Segundo o procurador, a PEC 37 vai na contramão do que se tem buscado,
pois, ao se permitir que mais órgão possam realizar investigações, mais célere
será a resolução dos casos. “Isso me parece brado de sindicalista, que não está
propriamente com a mão na massa”, afirma.
Como exemplo, Assis cita crimes de índole financeira, que são detectados
pelo Banco Central, que envia os documentos ao MP. Se aprovado o texto da PEC,
o MP não poderá investigar os dados, apenas encaminhá-los à polícia.
Presença garantida
“Paranóia” é o termo utilizado pelo delegado Marcos Leôncio, diretor da
Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), para definir a
preocupação de membros do MP com a aprovação da PEC. Segundo
Leôncio, a proposta pretende “fazer o que o constituinte de 1988 quis quando
escreveu o artigo 144 da Constituição: que o MP trabalhe junto com as polícias
Federal e Civil”.
O problema que acontece atualmente, para o delegado, é que há diversas
interpretações “bem complicadas” da Constituição, utilizadas para permitir que
o MP investigue crimes sozinho ou em parceria com a Polícia Militar ou a
Polícia Rodoviária Federal, que não são polícias judiciárias.
A parceria do MP com outras polícias se dá, segundo Leôncio, na busca
por subordinação. “O MP quer ser o tutor, exige posição de subordinação da
Policia Judiciária, que responde que as coisas não podem ser daquele jeito, que
cada órgão deve usar o seu know-how. Eles vão, então, buscar outras polícias.”
Já para Assis, da ANPR, delegados não devem ter autonomia ou liberdade
na investigação, pois isso levaria à produção de provas desnecessárias para o
MP. “Delegados trabalham a serviço da magistratura e devem trabalhar
apresentando resultados para o MP ou o Judiciário.”
A jurisprudência predominante é que o Ministério Público não pode
produzir provas, porém, o reconhecimento do poder de investigar do MP já foi
dado em decisão do
Tribunal de Justiça de São Paulo, no Supremo Tribunal
Federal e no Superior Tribunal
de Justiça.
Para o TJ-SP, “a prova [colhida pelo MP] é lícita e há que ser
admitida. Isto porque a Constituição Federal entregou ao Ministério Público o
monopólio da ação penal pública não lhe erigindo qualquer obstáculo como
condicionante”.
Já na decisão do STJ, o minstro Og Fernandes afirma que o Ministério
Público, como titular da ação penal pública, "pode proceder investigações
e efetuar diligências com o fim de colher elementos de prova para o
desencadeamento da pretensão punitiva estatal, sendo-lhe vedado tão-somente
realizar e presidir o inquérito policial”.
No julgamento do STF, porém, só cabe ao MP investigar em ações
delicadas, nas quais pode se tornar questionável a atuação da polícia, em
crimes praticados por policiais, como a prática de tortura.
A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) se posicionou totalmente contrária à proposta. O presidente da associação, o procurador regional da República Alexandre Camanho de Assis, afirma que levar toda e qualquer investigação para a polícia só fará com que a Justiça demore mais.
“Paranóia” é o termo utilizado pelo delegado Marcos Leôncio, diretor da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), para definir a preocupação de membros do MP com a aprovação da PEC. Segundo Leôncio, a proposta pretende “fazer o que o constituinte de 1988 quis quando escreveu o artigo 144 da Constituição: que o MP trabalhe junto com as polícias Federal e Civil”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário